quarta-feira, 4 de maio de 2011

Palestra “O retrato na história da arte” com Rodrigo Vivas na Casa Fiat de Cultura

No próximo dia 11 às 19:30h será realizada na Casa Fiat de Cultura palestra "O Retrato na História da Arte" com o doutor em História da Arte, Rodrigo Vivas.  Confira a matéria publicada no jornal Estado de Minas de ontem.



 
ARTES VISUAIS
Espelhos da alma

Exposição reúne retratos pintados por mestres como Modigliani, Cézanne, Toulouse-Lautrec, Picasso e os brasileiros Almeida Júnior e Portinari. Obras eternizam a fugaz aventura humana

Walter Sebastião

João Luiz Musa/Masp/divulgação
Moça com livro, quadro de Almeida Júnior


“Retratos e autorretratos mostram o espetáculo humano. É isso o que nos atrai num grande ator, leva-nos a ver filmes com estrelas ou a observar celebridades em novelas”. Assim o curador Teixeira Coelho define a exposição Olhar e ser visto - a figura humana da Renascença ao contemporâneo, que será aberta amanhã, na Casa Fiat de Cultura. As 40 obras vieram do acervo do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Entre os autores estão Toulouse-Lautrec, Modigliani, Paul Cézanne, Almeida Júnior, Portinari, Picasso, Victor Brecheret, Anita Malfati, Flávio Carvalho e Artur Omar.

Em cartaz até julho, a exposição está dividida em seis núcleos: “O retrato da pompa” (mostrando retratos como gênero autônomo no século 16); “O recurso à cena” (com modelos acompanhados de cenários, outras pessoas e objetos); “Eu mesmo” (abordando a atração narcisista pela própria imagem); “Retratos modernos” (modelos vistos com certa estranheza, em técnicas diferenciadas); “Retrato de ideias” (imagens ligadas a conceitos e despreocupadas com semelhanças externas); e “Desconstrução” (figuras com interferência de objetos e outros elementos, que “desfazem” a identidade).

Olhar e ser visto mostra as transformações de um gênero importante da pintura, revelando estilos e tratamentos dados ao motivo ao longo do tempo. Estará em cartaz na Casa Fiat a “redefinição” de mostra já apresentada no Masp, o primeiro trabalho do curador Teixeira Coelho dedicado ao retrato e ao autorretrato.

Trata-se de arte rica em questões. Percebê-las exige compromisso, isto é, atenção minuciosa à tela. É preciso, primeiramente, não se deter apenas no rosto da figura apresentada. Nas composições clássicas, a face é posicionada no encontro das linhas vertical e horizontal, em forma de cruz, obedecendo ao princípio do segmento áureo. Deve-se observar esse aspecto, mas não ficar preso só ao rosto, pois corre-se o risco de perder detalhes expressivos e significativos da obra de arte.

O uso do segmento áureo, informa Teixeira Coelho, faz com que o espectador tenha a sensação de que a figura olha para ele. “Aí está a relação mágica com o retrato”, lembra. Aliás, vem justamente desse aspecto o nome da exposição: Ver e ser visto. “Não é só ver retratos e autorretratos, mas também ser observado pelos quadros”, reforça o especialista.

Retrato de dama com livro junto a uma fonte (1785), de Antoine Vertier, por exemplo, mostra uma moça de sociedade. “Mas o pintor dá tanta importância ao vestido que ele acaba se tornando mais importante que o rosto. Até deixa a sensação de que a roupa foi mais bem pintada. O tecido do vestido dá à pintura outra qualidade”, observa o curador. 

TENSÃO 
Autorretrato é prática difícil. Cobra de seu autor muito esforço para encontrar a imagem de si mesmo. Vem daí certa tensão na face do artista, o que pode ser observado nos trabalhos expostos na Casa Fiat. Por outro lado, há quem “detone” a ideia convencional. Darcy Penteado (1926-1987), em obra ligada à produção pop brasileira, substituiu a própria face pela palavra “eu”, colando na tela um tufo de cabelo e uma luva de plástico. “Não interessa, aqui, a semelhança física exterior, mas o traço da atividade do artista”, explica Teixeira Coelho.

Se alguns se apresentam com a palheta de tintas, Pancetti (1902-1958) aparece com chapéu de palha e marreta. “Ele quer ser visto como operário, artesão, como um trabalhador, e não como gênio da arte”, informa o curador, convencido de que retratos e autorretratos são uma tentativa de sobreviver à morte. “Tanto da parte do artista, que espera ser visto depois de seu desaparecimento, como do retratado, cuja imagem pintada será olhada por outras pessoas”.

O gênero reúne maior número de obras da coleção do Museu de Arte de São Paulo. Na Casa Fiat poderão ser apreciados aspectos do conjunto considerado o mais importante da América Latina, talvez do Hemisfério Sul. “Infelizmente, o poder público e a sociedade brasileira ainda não se deram conta disso”, lamenta Teixeira Coelho, referindo-se aos constantes apertos financeiros do Masp. Tal situação cobra “a redefinição de compromissos” dos poderes públicos local, estadual e federal, pondera o especialista. “Temos obras-primas solicitadas pelos mais importantes museus do mundo”, lembra, listando trabalhos de Van Gogh “de primeira grandeza”, dos renascentistas Rafael Sanzio e Ticiano, e o único Velasquez da América Latina.

“Acho importante as pessoas saberem das dificuldades do Masp”, conclui Teixeira Coelho. Na opinião dele, também cabe à sociedade civil dar apoio mais decidido a esse importantíssimo acervo.

DICAS DO CURADOR

“Nos retratos com composição clássica, geralmente o rosto é o foco da tela. Visto esse aspecto, não se deve ficar preso a ele, mas procurar explorar todo o quadro. Ver uma pintura é fazer varredura em toda a superfície, centímetro por centímetro. Não deixe escapar nada”.

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“Nos autorretratos dessa exposição, os artistas se apresentam como pessoas modestas, com olhar modesto, não como heróis ou com a soberba que aparece na pintura histórica. Nas faces está patente a tensão que vem do esforço de se autorretratar, o que é difícil”.

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“Vale a pena observar os diferentes modos como os modelos são retratados, conhecer a escola artística do pintor, o movimento ou tendência em que ele se insere. Enfim, estar atento ao conceito que está por trás da imagem. Ao longo do tempo, esse tema teve enfoques muitos variados”.

CONFIRA
Programação paralela

. Dia 11, às 19h30
. Palestra “O retrato na história da arte”, com Rodrigo Vivas, doutor em história da arte
. Auditório da Casa Fiat de Cultura

Programa educativo 

Voltado para grupos, professores e estudantes. Propõe-se a estabelecer o diálogo entre arte-educadores e visitantes. É oferecida assessoria para professores que desejam abordagens direcionadas. Nos fins de semana, o serviço pode ser requisitado pelo público. Informações: (31) 3289-8910 ou 
agendamento1@casafiat.com.br.
OLHAR E SER VISTO – A FIGURA HUMANA DA RENASCENÇA AO CONTEMPORÂNEO

A partir de amanhã, na Casa Fiat de Cultura, Rua Jornalista Djalma Andrade, 1.250, Nova Lima, (31) 3289-8900. O espaço funciona de terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábado, domingo e feriado, das 14h às 21h. Entrada franca. Transporte gratuito da Praça da Liberdade à Casa Fiat. Informações: 
www.casafiatdecultura.com.br. Visitas orientadas para grupos e escolas: (31) 3289-8910.

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