No final da manhã desse último dia 18, duas
alunas da primeira turma do curso de Conservação e Restauração de
bens Culturais Móveis da EBA/UFMG, apresentaram a palestra "Oportunidades que Podemos Buscar no Intercâmbio", como parte das atividades da Semana do Conhecimento e Cultura da UFMG.
Eliana Ursine da Cunha Melllo e Beatriz Maria Fonseca Silva, participaram da seleção realizada pelo projeto MUNAS MUNDI quando ainda cursavam o 6º período e tiveram a chance de participar de um programa de intercâmbio na Universidade de Évora, em Portugal.
Eliana Ursine da Cunha Melllo e Beatriz Maria Fonseca Silva, participaram da seleção realizada pelo projeto MUNAS MUNDI quando ainda cursavam o 6º período e tiveram a chance de participar de um programa de intercâmbio na Universidade de Évora, em Portugal.
Em entrevista elas contam como foi a experiencia e o que aprenderam
nos quatro meses de trabalho no Centro Hércoles. Confira.
Vocês poderiam começar nos contando um pouco sobre como aconteceu o
processo de seleção?
Eliana - A seleção foi feita em duas etapas, sendo a primeira
realizada pela DRI e a segunda por Comissão Examinadora designada
pelo Reitor, sob a supervisão da DRI.
A primeira, eliminatória, fez a análise da documentação dos
candidatos inscritos e definiu aqueles que estavam aptos a participar
do processo, de acordo com as regras estabelecidas no edital.
Nessa fase, contou positivamente o bom RSG (Rendimento Semestral
Global) e também ter cumprido mais de 60% da minha carga horária
até o 5º período, pois quanto maiores esses valores, maior a
pontuação.
A segunda, classificatória, foi realizada com todos os selecionados
na primeira fase. Aconteceu por meio de entrevista, segundo critérios
estabelecidos pelo Comitê de Internacionalização da UFMG. Mas além
da entrevista, essa etapa avaliou também o currículo e a carta de
intenção que foi enviada no momento da candidatura.
Quanto mais participativos somos na vida acadêmica, melhor.
Iniciação científica, monitoria, projetos de extensão e estágio
são atividades valorizadas nessa etapa.
E como foi feita a escolha da instituição?
Eliana - Quando o Programa MINAS MUNDI abre inscrições para
candidatura já estão definidas as instituições que receberão os
alunos de cada um dos cursos da UFMG.
O aluno pode concorrer em duas instituições, mas se for selecionado
para as duas, é o DRI que define para onde ele irá, no intuito de
otimizar a ocupação das vagas.
Na época em que concorri, havia vagas para Università Degli Studi
di Roma II - Tor Vergata, na Itália e para a Universidade de Évora,
em Portugal. Concorri apenas para Évora, pois não tenho
proficiência no idioma italiano.
Vocês contaram com algum apoio financeiro?
Eliana - Bem, quando entramos no processo seletivo, já no edital o
DRI deixa claro que todas as despesas correrão por conta do aluno,
excluindo-se aqueles que sejam atendidos pela Fump nos níveis I, II
ou III.
Entretanto, quando eu já tinha sido selecionada para o intercâmbio,
o DRI abriu um processo de candidatura à bolsas para ajuda de
custos, através de avaliação socioeconômica realizada pela FUMP.
Inscrevi-me e fui contemplada.
Essa ajuda foi de extrema importância, e me possibilitou vivenciar o
período de estudos com mais tranquilidade.
Quais foram as atividades realizadas durante o intercâmbio?
Beatriz - Preocupamos em escolher disciplinas que acrescentassem
conteúdo significativo em nosso currículo, já que a Universidade
de Évora não possui o curso específico de Conservação e
Restauro. Da graduação freqüentamos disciplinas ligadas à
História da Arte e Arqueologia, e do mestrado optamos pela
Museologia e Gestão e Prática de Projetos. Esta última incluía
visitas guiadas a museus em Lisboa.
Como experiência extra curricular participamos de um worshop a
respeito de manuscritos antigos, onde tivemos contato com documentos
da época da inquisição. Uma experiência inusitada para nós, mas
que pela tradição e história portuguesa parecia coisa comum.
A oportunidade de participar de um estágio dentro do laboratório do
Museu de Évora, com apoio do Centro Hércules, uma instituição
portuguesa especialista na investigação e salvaguarda do patrimônio
fechou com “chave de ouro” nosso intercâmbio.
Qual a sua percepção da diferença entre o trabalho do
conservador/restaurador em Portugal e aqui no Brasil?
Eliana - Bem, dentro do Centro Hércules, onde fizemos um estágio de
quatro meses, o procedimento no trabalho com o patrimônio artístico
é o mesmo que aprendemos aqui. Baseia-se na investigação
histórica, nas análises organolépticas, nos exames científicos,
na documentação e registro de todas as etapas da intervenção e no
envolvimento de uma equipe multidisciplinar no decorrer do processo.
A diferença que senti foi na forma como eles olham para o objeto
histórico.
Quando fomos chamadas para o estágio e nos deparamos com as telas
que iríamos restaurar, fiquei um tanto temerosa. Para falar a
verdade, fiquei em pânico!
Duas telas dos finais do século XVIII, que pertencem ao acervo da
Universidade de Évora. Pinturas com características naifes, sem
apuro técnico, sem grande valor artístico, mas tinham mais de 200
anos! Para mim já era motivo suficiente para questionar minha
capacidade de desenvolver o trabalho.
Aqui no Brasil, certamente não teríamos a oportunidade de realizar
uma vivência profissional nessas condições.
Mas para a equipe que nos coordenava era uma proposta adequada à
nossa habilidade e conhecimento e, muito provavelmente, eles não
tinham nada “mais novo” para nos oferecer.
Nós brasileiros, temos 500 e poucos anos de história e muitas
dificuldades nas questões relativas à preservação de nosso
patrimônio. Imagine os portugueses, que possuem um acervo que conta
com objetos da época da ocupação romana no século III a.C., sem
falar nos vestígios pré e proto-históricos.
Em Portugal não se caminha um metro sem “esbarrar” em algo que
não tenha pelo menos 350 anos.
A história da arte está muito inserida no cotidiano das pessoas.
Elas moram em casas centenárias, tem móveis, quadros, esculturas e
documentos centenários. E na maioria das vezes, não é por escolha,
é por herança familiar mesmo.
O patrimônio artístico é grande, precisa ser protegido, conservado
e, talvez seja essa a razão para que lidem com essas questões com
muita objetividade.
Como vocês percebem a importância do intercâmbio?
Beatriz - Além das disciplinas cursadas na Universidade de Évora
que complementaram nosso aprendizado teórico, a experiência do
estágio oferecido pelo Laboratório Hércules foi enriquecedora.
Participar de uma intervenção em uma obra do final do século XVIII
agregou valores especiais em nossa vivência acadêmica. Ressaltamos
também as atividades práticas de escavação arqueológica.
O contato direto com a cultura portuguesa, com outra instituição
universitária contribuiu muito para a nossa formação e crescimento
intelectual. Realmente uma experiência que “abre os horizontes”.
Que tipo de resultados de curto e de longo prazo se pode esperar de
uma experiência como essa?
Beatriz - A curto prazo podemos destacar o acréscimo da bagagem
teórica e prática, que foi ampliada com novos conteúdos. Neste
ponto a escavação arqueológica em monumentos megalíticos como as
“antas” portuguesas (datados 4000 a 2000 AC) foi uma oportunidade
ímpar.
Resultados a longo prazo estão relacionados com as aplicações do
aprendizado. Particularmente falando direcionei vários trabalhos
acadêmicos a áreas de interesse pessoal, e o conteúdo certamente
será aproveitado em pesquisas e até mesmo no desenvolvimento de
trabalhos profissionais.
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