segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Programa MINAS MUNDI - Entrevista com as intercambistas da Universidade de Évora - Portugal



No final da manhã desse último dia 18, duas alunas da primeira turma do curso de Conservação e Restauração de bens Culturais Móveis da EBA/UFMG, apresentaram a palestra "Oportunidades que Podemos Buscar no Intercâmbio", como parte das atividades da Semana do Conhecimento e Cultura da UFMG.

Eliana Ursine da Cunha Melllo e Beatriz Maria Fonseca Silva, participaram da seleção realizada pelo projeto MUNAS MUNDI quando ainda cursavam o 6º período e tiveram a chance de participar de um programa de intercâmbio na Universidade de Évora, em Portugal. 
 
Em entrevista elas contam como foi a experiencia e o que aprenderam nos quatro meses de trabalho no Centro Hércoles. Confira.


Vocês poderiam começar nos contando um pouco sobre como aconteceu o processo de seleção?
Eliana - A seleção foi feita em duas etapas, sendo a primeira realizada pela DRI e a segunda por Comissão Examinadora designada pelo Reitor, sob a supervisão da DRI.
A primeira, eliminatória, fez a análise da documentação dos candidatos inscritos e definiu aqueles que estavam aptos a participar do processo, de acordo com as regras estabelecidas no edital.
Nessa fase, contou positivamente o bom RSG (Rendimento Semestral Global) e também ter cumprido mais de 60% da minha carga horária até o 5º período, pois quanto maiores esses valores, maior a pontuação.
A segunda, classificatória, foi realizada com todos os selecionados na primeira fase. Aconteceu por meio de entrevista, segundo critérios estabelecidos pelo Comitê de Internacionalização da UFMG. Mas além da entrevista, essa etapa avaliou também o currículo e a carta de intenção que foi enviada no momento da candidatura.
Quanto mais participativos somos na vida acadêmica, melhor. Iniciação científica, monitoria, projetos de extensão e estágio são atividades valorizadas nessa etapa.

E como foi feita a escolha da instituição?
Eliana - Quando o Programa MINAS MUNDI abre inscrições para candidatura já estão definidas as instituições que receberão os alunos de cada um dos cursos da UFMG.
O aluno pode concorrer em duas instituições, mas se for selecionado para as duas, é o DRI que define para onde ele irá, no intuito de otimizar a ocupação das vagas.
Na época em que concorri, havia vagas para Università Degli Studi di Roma II - Tor Vergata, na Itália e para a Universidade de Évora, em Portugal. Concorri apenas para Évora, pois não tenho proficiência no idioma italiano.

Vocês contaram com algum apoio financeiro?
Eliana - Bem, quando entramos no processo seletivo, já no edital o DRI deixa claro que todas as despesas correrão por conta do aluno, excluindo-se aqueles que sejam atendidos pela Fump nos níveis I, II ou III.
Entretanto, quando eu já tinha sido selecionada para o intercâmbio, o DRI abriu um processo de candidatura à bolsas para ajuda de custos, através de avaliação socioeconômica realizada pela FUMP. Inscrevi-me e fui contemplada.
Essa ajuda foi de extrema importância, e me possibilitou vivenciar o período de estudos com mais tranquilidade.

Quais foram as atividades realizadas durante o intercâmbio?
Beatriz - Preocupamos em escolher disciplinas que acrescentassem conteúdo significativo em nosso currículo, já que a Universidade de Évora não possui o curso específico de Conservação e Restauro. Da graduação freqüentamos disciplinas ligadas à História da Arte e Arqueologia, e do mestrado optamos pela Museologia e Gestão e Prática de Projetos. Esta última incluía visitas guiadas a museus em Lisboa.
Como experiência extra curricular participamos de um worshop a respeito de manuscritos antigos, onde tivemos contato com documentos da época da inquisição. Uma experiência inusitada para nós, mas que pela tradição e história portuguesa parecia coisa comum.
A oportunidade de participar de um estágio dentro do laboratório do Museu de Évora, com apoio do Centro Hércules, uma instituição portuguesa especialista na investigação e salvaguarda do patrimônio fechou com “chave de ouro” nosso intercâmbio.

Qual a sua percepção da diferença entre o trabalho do conservador/restaurador em Portugal e aqui no Brasil?
Eliana - Bem, dentro do Centro Hércules, onde fizemos um estágio de quatro meses, o procedimento no trabalho com o patrimônio artístico é o mesmo que aprendemos aqui. Baseia-se na investigação histórica, nas análises organolépticas, nos exames científicos, na documentação e registro de todas as etapas da intervenção e no envolvimento de uma equipe multidisciplinar no decorrer do processo. A diferença que senti foi na forma como eles olham para o objeto histórico.
Quando fomos chamadas para o estágio e nos deparamos com as telas que iríamos restaurar, fiquei um tanto temerosa. Para falar a verdade, fiquei em pânico!
Duas telas dos finais do século XVIII, que pertencem ao acervo da Universidade de Évora. Pinturas com características naifes, sem apuro técnico, sem grande valor artístico, mas tinham mais de 200 anos! Para mim já era motivo suficiente para questionar minha capacidade de desenvolver o trabalho.
Aqui no Brasil, certamente não teríamos a oportunidade de realizar uma vivência profissional nessas condições.
Mas para a equipe que nos coordenava era uma proposta adequada à nossa habilidade e conhecimento e, muito provavelmente, eles não tinham nada “mais novo” para nos oferecer.
Nós brasileiros, temos 500 e poucos anos de história e muitas dificuldades nas questões relativas à preservação de nosso patrimônio. Imagine os portugueses, que possuem um acervo que conta com objetos da época da ocupação romana no século III a.C., sem falar nos vestígios pré e proto-históricos.
Em Portugal não se caminha um metro sem “esbarrar” em algo que não tenha pelo menos 350 anos.
A história da arte está muito inserida no cotidiano das pessoas. Elas moram em casas centenárias, tem móveis, quadros, esculturas e documentos centenários. E na maioria das vezes, não é por escolha, é por herança familiar mesmo.
O patrimônio artístico é grande, precisa ser protegido, conservado e, talvez seja essa a razão para que lidem com essas questões com muita objetividade.

Como vocês percebem a importância do intercâmbio? 
Beatriz - Além das disciplinas cursadas na Universidade de Évora que complementaram nosso aprendizado teórico, a experiência do estágio oferecido pelo Laboratório Hércules foi enriquecedora. Participar de uma intervenção em uma obra do final do século XVIII agregou valores especiais em nossa vivência acadêmica. Ressaltamos também as atividades práticas de escavação arqueológica.
O contato direto com a cultura portuguesa, com outra instituição universitária contribuiu muito para a nossa formação e crescimento intelectual. Realmente uma experiência que “abre os horizontes”.

Que tipo de resultados de curto e de longo prazo se pode esperar de uma experiência como essa?
Beatriz - A curto prazo podemos destacar o acréscimo da bagagem teórica e prática, que foi ampliada com novos conteúdos. Neste ponto a escavação arqueológica em monumentos megalíticos como as “antas” portuguesas (datados 4000 a 2000 AC) foi uma oportunidade ímpar.
Resultados a longo prazo estão relacionados com as aplicações do aprendizado. Particularmente falando direcionei vários trabalhos acadêmicos a áreas de interesse pessoal, e o conteúdo certamente será aproveitado em pesquisas e até mesmo no desenvolvimento de trabalhos profissionais.

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