quarta-feira, 13 de julho de 2011

Interdisciplinaridade


Despertou curiosidade no I Congresso Internacional de Estudos do Léxico, realizado em Salvador, de 17 a 20 de abril, o trabalho da aluna do sétimo período do Curso de Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis, Janes Mendes Pinto, que se propõe elaborar um dicionário especializado da terminologia da área, utilizando os princípios e a metodologia da Lexicografia e da Terminologia atuais. 
 
A pesquisa, que vem sendo realizada desde o segundo semestre de 2009 pelo Programa de Iniciação Científica, é orientada pela Professora Eliana Ribeiro Ambrósio, do Curso de Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis, EBA-UFMG, quanto ao conteúdo específico desse campo de saber, e coorientada pela Professora Maria Cândida Trindade de Seabra, da Faculdade de Letras da UFMG, quanto à metodologia lexicográfica para a produção de dicionários especializados. Leia o resumo do trabalho apresentado:

O SABER E O DIZER: por uma documentação terminográfica da “Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis”

O trabalho parte das relações entre o conhecimento, organizado em campos de saber, e o léxico, distribuído em terminologias diferenciadas, para propor, com fundamento em Biderman (1998), que a terminologia não é um elemento acessório na construção dos saberes específicos, mas é por ela e com ela que cada campo do saber se constrói. É traçado um paralelo histórico entre a especialização do conhecimento ocidental nas diversas ciências e a criação dos repertórios lexicais especiais – as terminologias – para demonstrar que não é a criação de um campo específico de saber que determina a formulação de uma terminologia, mas que ambos decorrem de um mesmo modelo cognitivo e cultural. São abordados, também, os objetivos funcionais das terminologias expostos por Krieger e Finatto (2004): organizar, com objetividade e padronização, o conhecimento acumulado, para permitir a sua circulação, renovação e evolução, o que conduz à caracterização do registro terminográfico de uma especialidade como o estudo de um universo que se situa entre o saber dizer – a palavra – e o saber fazer – a ciência e a técnica. Mencionam-se, ainda, as fontes de formação dos termos: a) criação da própria disciplina pela recuperação de formantes greco-latinos; b) uso particular de elementos do léxico geral; e c) adoção de termos já consagrados de outras disciplinas.

No caso da terminologia da Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis, objeto deste trabalho, expõe-se como sua forte interdisciplinaridade – com numerosos outros campos de conhecimento, pertencentes tanto às ciências ditas sociais, quanto às exatas e às naturais, além de outros campos, não considerados científicos – permite supor, mesmo sem dados numéricos, que o empréstimo de termos de outras disciplinas é um dos mecanismos predominantes na formação de seu universo terminológico, ao lado da ressignificação de itens do léxico comum. Um estudo de caso é apresentado para demonstrar que, mesmo nos casos de empréstimos de outras disciplinas, o termo emprestado configura um novo item terminológico, com significado, definição e uso diversos dos originais. 

 
Finalmente, com base nesses pressupostos e na constatação de que a “Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis” se encontra, no Brasil, em um momento de estruturação e consolidação como campo autônomo de conhecimento – criação dos primeiros cursos de graduação e regulamentação da atividade profissional –, defende-se a elaboração de um documento terminográfico da disciplina, como parte integrante desse processo.

 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. As ciências do léxico. In: OLIVEIRA A. M. P; ISQUERDO, A. N. As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. Campo Grande, MS: UFMS, 1998.
 
KRIEGER, Maria da Graça; FINATTO, Maria José Bocorny. Introdução à terminologia: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2004.

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